Ética e Vergonha na Cara! (2014) - Mario Sérgio Cortella & Clóvis de Barros Filho


Capa do livro Ética e Vergonha na Cara!

Ética e Vergonha na Cara! - Capa do livro

O livro Ética e Vergonha na Cara! é escrito em forma de diálogo por Clóvis de Barros Filho e Mario Sérgio Cortella que debatem sobre as questões éticas que encontramos no dia-a-dia e sobre os principais pensamentos sobre o assunto, fazendo ganchos das reflexões atuais com as que vigoravam em épocas mais remotas, como o pensamento ético na civilização grega, esta que por sinal é mencionada como os pilares da sustentação do pensamento ético existente atualmente. A citação da primeira página, de Rui Barbosa, ilustra com maestria o que será abordado ao desenvolvimento do diálogo, sendo a seguinte citação:
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Esta citação retrata o perfil do brasileiro trabalhador, honesto que acorda cedo todos os dias para trabalhar e volta tarde para casa por ter uma carga horária alta e dificuldades na infraestrutura da cidade que impossibilita-o de chegar mais cedo e com mais comodidade, se já não contar com a criminalidade que o preocupa! De tanto ver a impunidade reinar e perceber que os bandidos, aos olhos da sociedade, possuem mais direitos que deveres e fazem-se duvidar da justiça, da bondade, da honestidade, da honra, da ética. A ética da conveniência é o que prevalece em uma sociedade que já se confunde os valores e se escolhe de acordo com “O que é melhor pra mim”. O relativismo e imediatismo tornam-se a regra, a justiça a exceção.
A ética é apenas uma palavra para designar uma idealidade inalcançável e impraticável? A ética é apenas um papo de boteco em que se utiliza como bordão para designar as ações de um determinado alguém? “Que falta de ética!”, “Isto é antiético!”, “Você deve estar inteirado com a ética profissional de sua empresa!”. Talvez você já tenha escutado isso pelo menos uma vez. Ética é uma palavra da moda e que se confunde com moral. Mas então o que é ética e o que é a moral?
Segundo o dicionário Michaelis, ética vem do grego ethiké e significa estudo dos valores morais e os princípios ideais da conduta humana e moral é “parte da filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres do homem dentro de uma sociedade”. Ora, então seria certo considerar a ética como uma área de estudo em busca de uma idealidade e moral como tudo aquilo que se diz respeito aos atos de um ser dentro de uma sociedade que irá variar de acordo com a cultura, classe social e tempo histórico.
Veja, apesar de se confundirem os termos por seus significados eles contêm significância que se diferem na prática. A ideia do livro é apresentar ao leitor os diversos tipos de ética que são encontrados e traçar um paralelo como comparativo entre as éticas existentes, além de elucidar ao leitor o que é a moral e como ela é identificada.
O tema da corrupção é incansavelmente discutido pelos professores, sendo ilustrados casos de corrupção e suas implicações. Também é abordada a estrutura de outros países em relação ao Brasil e o modo de como é tratada a corrupção, levantando questionamentos acerca da escolha individual que cabe a cada cidadão de uma nação. A corrupção é uma escolha? A ética é relativizada de acordo com a bagagem cultural de uma população? A razão da corrupção ser mais comum em países que a população é pobre, isso implica em dizer que quanto mais pobre é a população mais corrupto será seu governo? A corrupção dentro das empresas é caracterizada por sua massa trabalhadora? Pelo pensamento de Clóvis e Cortella a corrupção é uma escolha ética, ou seja, é uma escolha, não uma consequência.
A desculpa dada pelo corruptor passivo (uso este termo para identificar aquele que consente com a corrupção, podendo ser um praticante ou não deste tipo de comportamento) é que só é desse modo porque o SISTEMA é assim. Ora, isso implica em dizer que não teremos avanços em qualquer esfera do conhecimento e da evolução humana que seja caracterizada como um SISTEMA, pois a afirmação "o sistema é assim" é como dizer "conforme-se com isto, é assim mesmo, não compete a nós mudarmos". Lembre-se, todo e qualquer sistema é uma criação humana condicionada por vários fatores que o compõem, logo, qualquer intervenção de melhoria só pode ser iniciado por quem está diretamente ligado a prática e à consequência de um ato corruptivo.
A ética é defendida no livro como uma escolha, ou seja, está ligada a liberdade, a possibilidade de escolhermos o que queremos, isto é, de escolhermos o que acreditamos ser melhor para nós como indivíduos. Ética também é a inteligência que compartilhamos para sabermos qual o melhor modo de se viver em sociedade. Por isso, para Cortella, a palavra “escolha” é a chave para designar o que é ética no dia-a-dia.
A conversa do professor Clóvis e do professor Cortella irá conduzir o leitor a entender a razão e a importância das escolhas, da atribuição de valor para tal ação, das referências de contraste na atribuição de valor, na falta de “receitas de bolo” para se escolher o certo, sobre os valores éticos que se evidenciam no cotidiano e a razão do porque dizerem que “hoje os valores se perderam”! É ressaltado também que aparentemente o ser humano é o único ser vivente que detém o poder da escolha, da liberdade, e que muitas vezes isso se torna motivo de frustrações, pois a liberdade implica na responsabilidade, como já diria Sartre “Estamos condenados a sermos livres”.
Com toda certeza é uma leitura que elucida o autor em relação à realidade, bem como lhe dá entendimento para suas próprias escolhas. Por isso, é uma leitura contemporânea, que se refere a seu tempo e posso dizer que pela abordagem do livro, jamais deixará de ser atual, recomendando-se a leitura para quem busca refletir sobre as ações humanas e sobre as motivações que se evidenciam nos fins.

Clóvis de Barros Filho e Mario Sérgio Cortella, Ética e Vergonha na Cara!, Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2014. - (Coleção Papipus Debates)

Também tem o vídeo no Youtube que mostra o diálogo dos professores acerca desta obra, respondendo perguntas e levantando outras reflexões pertinentes à ética.





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